“A prática da agricultura – termo aqui adotado como o conjunto de atividades agrícolas, pecuárias e de silvicultura – é uma das atividades antrópicas mais antigas e consiste em um dos principais meios de utilização dos ecossistemas como fonte de alimentos, matéria-prima e energia. Ainda, as atividades agrícolas, em muitas comunidades humanas, podem ir além da produção de materiais, envolvendo a cultura, religião e o estilo de vida da região. Assim, a produção de alimentos pertence ao conceito mais amplo de contribuições da natureza para as pessoas, possuindo valores que vão desde os econômicos de consumo até valores relacionais de identidade cultural. O Brasil se tornou, nas últimas três décadas, um dos maiores responsáveis pela produção agrícola mundial, suprindo aproximadamente 10% da demanda alimentícia global (Contini e Aragão, 2021). Dentre os principais produtos oriundos do setor agrícola brasileiro, destacam-se o complexo da soja, a produção de carnes, o complexo sucroalcooleiro, cereais, produtos florestais, café, fibras, fumo, sucos e demais produtos de origem animal que somados contribuíram cerca de 157 bilhões de dólares para a balança comercial brasileira em 2023 (MAPA, 2023; Figura 0.1). Em adição, a agricultura brasileira é responsável por cerca de 20% dos empregos formais no país (Barros et al., 2022) e totaliza aproximadamente 27% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional (Cepea, 2021; mais detalhes no capítulo 1 deste relatório). Ao mesmo tempo, o Brasil é um país de uma imensa biodiversidade. Os ecossistemas no território brasileiro abrigam mais de 20% do número total de espécies da Terra, o que eleva o país ao posto de principal nação entre os 17 países megadiversos do mundo, ou seja de maior biodiversidade (MMA, 2024). O país contém dois hotspots de biodiversidade global, o Cerrado e a Mata Atlântica, bem como uma grande porção da Amazônia, ecossistema com enorme relevância para o clima continental e global, o que nos coloca numa situação de responsabilidade elevada para a conservação global da biodiversidade e dos recursos naturais. A importância da manutenção dessa biodiversidade para a provisão de diversos serviços ecossistêmicos – benefícios que os ecossistemas naturais provêm para o bem-estar humano – vem sendo a cada dia mais evidenciada pela ciência (Díaz et al., 2015). Além disso, o país abriga uma rica sociodiversidade, representada por mais de 300 povos indígenas e por diversas comunidades tradicionais, como quilombolas, caiçaras e seringueiros, que reúnem um inestimável acervo de conhecimentos sobre a conservação da biodiversidade e que possuem diversas formas de relações culturais com os ambientes naturais. “
- Serviços ecossistêmicos: são os benefícios diretos e indiretos que os ecossistemas fornecem aos seres humanos e que são essenciais para as nossas sociedades. Para o Millennium Ecosystem Assessment (MEA 2005), os serviços ecossistêmicos são classificados em: serviços de provisão, como provisão de alimentos, fibras e água; serviços de regulação, como a regulação do clima e o controle de inundações e erosão; serviços culturais, como os benefícios espirituais, cognitivos e recreativos; e os serviços de suporte, como a ciclagem de nutrientes, a produção de oxigênio e a formação dos solos.
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https://www.bpbes.net.br/wp-content/uploads/2024/12/BPBES_Relatorio-Agricultura-2024.pdf